terça-feira, 21 de agosto de 2007

Torre Bela - 1975-2007

Este fascinante documentário retrata, através de um microcosmo, os efeitos libertadores que surgiram após a revolução dos cravos. É o melhor filme que alguma vez vi sobre o 25 de Abril, neste caso, sobre alguns dos seus efeitos. Sem estar preso a qualquer progressão da narrativa de forma forçada, a não ser aquela que as imagens, encadeadas cronologicamente, nos sugerem, nem qualquer atitude panfletária, Thomas Harlan, alemão seduzido pelas convulsões revolucionais portuguesas, documentou a força popular que ocupou o Palácio do Duque de Lafões. É extraordinário ver aqueles homens e mulheres, que sentem que a revolução se fez para servir as suas causas e interesses, a lutar, em tentativas de organização, a exaltarem-se e a esmorecerem por aquela causa. É-me fascinante ver aquelas pessoas, ainda que condicionados pela câmara (sim, parece-me haver por lá poses e oportunismos), a lutar por algo que julgam estar ao seu alcance derrubando barreiras legais e de bom senso (é caricato, mas real, vermos os membros do MFA a fomentar, acredito que ingenuamente, a ocupação popular.)
Mas acima de tudo o que mais me fascina aqui é o aspecto desse Portugal, aquelas pessoas que o representam (no seu conjunto, pois cada uma delas tem a sua singularidade exposta.) Extremamente bem captado por Harlan que sabe dar voz a várias delas e, consequentemente, tornar comovente aqueles planos de multidão em que cada rosto, ainda que anónimo, é um indivíduo e não mais um número perdido na soma.
Segundo alguns artigos que li este filme tem sido um work in progress para Harlan, tendo já montado diversas Torres Belas, uma delas, a inicial, teria por volta de 4h de duração, e honestamente eu era capaz de passar até bem mais tempo com aquelas pessoas. É muito mais que um “25 of April movie” é um filme de uma época portuguesa, visto por olhos estrangeiros, é certo e por isso, bem mais lúcidos. É uma reposição no nosso circuito comercial mas pelo seu estatuto de work in progress é, por direito, uma das estreias do ano.

O blogue do João Tunes fornece-nos uma melhor, e mais esclarecida, contextualização do filme.

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