sábado, 1 de setembro de 2007

Mysterious Skin – 2004

Vindo da produção independente americana (que a meu ver nos últimos tempos tem-se tornado, na maior parte dos casos, em estilo), este filme de Gregg Araki surpreende pelo retrato impiedoso, e emocional, sobre os efeitos sexualmente abusivos praticados a duas crianças. E a verdadeira força do filme de Araki advém do facto dele evitar a generalização, pois tece uma narrativa focada no detalhe e em espiral sobre os seus protagonistas. De certa forma cada personagem, Neil e Brian (todos os 4 actores que as encarnam, dois para a adolescência dois para a infância, vão muito bem), tem um percurso em espiral que, no final, acabam por chocar, uma com outra, e implodir. Evitando estereotipar as personagens (ficamos a sós com os nossos preconceitos), Araki faz tudo para que elas nos fujam por entre os dedos quando menos esperaríamos (e esse trabalho é excepcional a nível dos secundários, essencialmente o abusador professor de baseball (vénia a Bill Sage) e as mães dos protagonistas.) No entanto, apesar de tudo, a estrutura vai-se insinuando rapidamente ao longo do filme, fazendo com que, chegados a metade da história, saibamos o que nos espera no final (nunca o percurso até lá.) O que não sendo necessariamente mau, acaba por emocionalmente o resultado não ser pungente como, claramente, era a intenção de Gregg Araki. E claro, entre outras coisas, há por lá uma citação poética a Douglas Sirk (ou pelo menos eu vi-a assim) que me pareceu forçada - é aquela cena em que a amiga de Neil, e ele próprio, diante uma tela de cinema drive-in, se imaginam num filme das suas vidas até àquele momento - o fim da inocência - e por trás a neve começa a cair.

Ainda que chegado com imenso atraso Mysterious Skin não deixa de ser mais um arremesso de kaka para a face dos que gostam de afirmar que na, so called, silly season nada de jeito se estreia.

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