Vindo da produção independente americana (que a meu ver nos últimos tempos tem-se tornado, na maior parte dos casos, em estilo), este filme de Gregg Araki surpreende pelo retrato impiedoso, e emocional, sobre os efeitos sexualmente abusivos praticados a duas crianças. E a verdadeira força do filme de Araki advém do facto dele evitar a generalização, pois tece uma narrativa focada no detalhe e em espiral sobre os seus protagonistas. De certa forma cada personagem, Neil e Brian (todos os 4 actores que as encarnam, dois para a adolescência dois para a infância, vão muito bem), tem um percurso em espiral que, no final, acabam por chocar, uma com outra, e implodir. Evitando estereotipar as personagens (ficamos a sós com os nossos preconceitos), Araki faz tudo para que elas nos fujam por entre os dedos quando menos esperaríamos (e esse trabalho é excepcional a nível dos secundários, essencialmente o abusador professor de baseball (vénia a Bill Sage) e as mães dos protagonistas.) No entanto, apesar de tudo, a estrutura vai-se insinuando rapidamente ao longo do filme, fazendo com que, chegados a metade da história, saibamos o que nos espera no final (nunca o percurso até lá.) O que não sendo necessariamente mau, acaba por emocionalmente o resultado não ser pungente como, claramente, era a intenção de Gregg Araki. E claro, entre outras coisas, há por lá uma citação poética a Douglas Sirk (ou pelo menos eu vi-a assim) que me pareceu forçada - é aquela cena em que a amiga de Neil, e ele próprio, diante uma tela de cinema drive-in, se imaginam num filme das suas vidas até àquele momento - o fim da inocência - e por trás a neve começa a cair.
Ainda que chegado com imenso atraso Mysterious Skin não deixa de ser mais um arremesso de kaka para a face dos que gostam de afirmar que na, so called, silly season nada de jeito se estreia.
Ainda que chegado com imenso atraso Mysterious Skin não deixa de ser mais um arremesso de kaka para a face dos que gostam de afirmar que na, so called, silly season nada de jeito se estreia.
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