terça-feira, 25 de setembro de 2007

Wild tigers I have known – 2006

Um filme sobre o encontro natural com a sexualidade. Mas há encontros mais brutais que outros, naturalmente. Logan (Malcolm Stumpf), solitário protagonista, miúdo de um só amigo, não sabe como lidar com ela (nem parece saber o que ela é) e por isso refugia-se nos sonhos e desejos que lhe assaltam constantemente a cabeça (e o coração). Sonhos esses que envolvem tigres, leões e aranhas. Um dia esses sonhos e desejos ganham um norte. Um rapaz mais velho Rodeo (Patrick White), também ele um solitário que vagueia pela escola, provoca em Logan uma certa identificação e atracção. Faz-se então amigo de Rodeo, que o leva a ver cool stuff, como leões no mato. Mais tarde descobre que Rodeo, não partilha com ele a mesma atracção, gosta de moças, o que faz com que a sua frustração e alheamento se tornem mais acentuados. Sentimentos esses que se vão manifestar em novas formas de se encarar: tenta olhar-se como mulher, na forma como se traveste, na forma como se “ouve” com voz feminina (as cenas ao telefone, entre Logan e Rodeo, são fantásticas), etc. Isto leva, necessariamente, em sociedades guiadas pelo preconceito, à descriminação, ao abandono, às incertezas da vida e às certezas da morte. O final não desvendo mas garanto-vos que é justo.

Wild Tigers I have Known (gosto bastante do título, aliás é daqueles títulos que faz um filme) é intrigante, os sonhos não cessam de invadir a realidade (ou o contrário?) Há uma imagem recorrente que, de certa forma, vai ancorando o filme: a tentativa do miúdo se encontrar na imagem que lhe é devolvida pelo espelho que está, cliché, fracturado. Imagens essas que rimam com outras em que o miúdo olha para a câmara, olhando-nos (tentando reconhecer-se em nós?) Por vezes, parece-me, que Cam Archer o filma assim na intenção dele próprio também tentar o reconhecimento naquele rapaz.

A grande pedra no sapato do filme, e é de facto grande, é as referências estarem ainda demasiado evidentes. David Lynch (realizador de narcóticos pesadelos) e Sud Pralad (aka Tropical Malady), de Apichatpong Weerasethakul (sim, muito por causa dos tigres, mas não só), são duas referências que me parecem estar no seu cerne, o que o debilita um pouco, não só por não estar ao nível delas mas porque aqueles universos são de tal forma pessoais e genuínos, que se tornam de difícil apropriação. Apesar disso o filme consegue dar-lhes alguma “coerência”, intriga e sensualidade, típicas da cabeça fervilhante de um rapaz em crise de identidade sexual, logo pessoal.

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