terça-feira, 18 de setembro de 2007

Yabu no naka no kuroneko (aka Black Cat from the Grove) – 1968

Eu tenho o cérebro ocupado de mitologias cinéfilas, são elas: filmes que nunca vi mas que, pelo que li (e tento sempre não ler muito) e do pouco que me foi dado a ver, não deixam de ser da minha vida. É claro que aqui empolo um pouco o delírio. Não deixa contudo de ser verdade que alguns deles têm uma força tal na minha imaginação que já negligenciei a minha higiene diária para os “rever” cá “dentro”. Um desses títulos é Onibaba de Kaneto Shindo. Ainda não foi desta que o vi… vi sim um filme posterior a esse do mesmo realizador que segundo o Manuel Cintra Ferreira, da Cinemateca Portuguesa, pisa os mesmos terrenos que aqueloutro sem chegar à sua mestria.
E o que dizer catraios… se calhar deveria acabar aqui o post, não?... não, posso-vos falar um pouco da sua narrativa… No tempo das guerras civis japonesas, que se estendeu aos clãs dos samurais, Gintoki (Kichiemon Nakamura), um camponês, tem que deixar para trás a sua esposa, Shige (Kiwako Taichi), e a sua mãe, Yone (Nobuko Otowa), para defender o seu território contra os bárbaros. Certo dia, mãe e filha são assaltadas, violadas e mortas por uma dezena de samurais. Surge então o gato preto que lhes devolve a “vida” sob uma maldição: as duas fantasmas terão de seduzir e matar todos os samurais que passem por aquela floresta de bambu. Assim é. Um atrás doutro, todos morrem sob os encantos delas.
Gintoki, o jovem camponês agora condecorado samurai pela sua valentia, regressa a casa e não encontra lá as mulheres. Presume ele que fugiram, pois não seria caso único naquele tempo tumultuoso.
Com o desaparecimento de vários samurais da região o chefe do seu clã ordena-o que elimine o “monstro” que atormenta os cavaleiros. Gintoki parte então para a noite da floresta de bambu. Encontra-as, reconhece-as e é seduzido pela sua falecida mulher. Shige no dia seguinte já não existe, pois não matou aquele samurai. Não o matou quando o amava na cama, leito fatal para os outros. Sobra Yone, a mãe…
Epá, já estou a contar demasiada história e não é certamente de histórias que vivem os filmes, mas sim, neste caso mais que noutros, de fantasmas. É vê-las a voarem naquele scope a preto&branco. É vê-las em rituais de morte (a dança de morte da mãe!) É vê-las, as luzes, a formarem os corpos e a apagarem-nos…
Isto é do melhor cinema de terror, é do melhor cinema de amor, é do melhor cinema “chambara” (género de samurais) de sempre e nem sequer é Onibaba…!
Os deuses (ou o Manuel Cintra Ferreira) devem estar a gozar comigo, ai devem, devem…

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