
Pode-se dizer, sem assombramentos, que Van Sant estreou-se com o pé direito na realização. Num filme de temática assumidamente gay, como aliás alguns outros filmes que se lhe seguiram, e de estilo nova-iorquino, como John Cassavetes explorou, Van Sant filma a autobiográfica história de Walt Curtis. E filma como se fosse um filme on the road (acredito que esse seja o espírito do romance que lhe está na origem) parado numa cidade, Portland, do interior fronteiriço americano. E parado o protagonista, Walt (Tim Streeter), vê a chegada de dois novos jovens mexicanos à sua loja de bebidas. Em voz off o protagonista vai fantasiando sobre os dois jovens. Um deles, o que ele mais gosta, resiste aos seus avanços, o outro, segundo as suas regras e uma certa maquia, lá se entrega aos prazeres carnais de Walt. O filme não se esforça muito por contornar as seduções explícitas masculinas, e faz muito bem, mas nunca recorrendo ao efeito explícito que daí poderia advir.
Johnny (Doug Cooeyate), quem Walt verdadeiramente deseja, a meio do filme desaparece (descobre-se mais tarde que foi caçado pelas autoridades de emigração), ficando Walt somente com Roberto (Ray Monge). Começa então a transferir o desejo que tinha pelo outro para aquele. Desejo esse que nunca é correspondido, apesar de se enrolarem os dois na cama.
No final a coisa volta a alterar-se, é Roberto quem desaparece e Johnny quem reaparece. Tudo em aberto de novo. As hesitações voltam assim como a esperança.

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