sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Enter the Dragon - 1973

Ponto culminante na obra de Bruce Lee. A sua própria viúva diz, num dos extras do dvd, que a maior ambição dele era fazer uma produção hollywoodesca na China. Conseguiu mas não a tempo de a ver. Morreu dias antes da sua estreia.
Como quase todas as produções da máquina de Hollywood há sempre algo que se perde. E perde-se mais quando não há um excelente realizador por detrás da coisa. Robert Clouse não me parece ser especialmente dotado - safou-se como pôde - e fez um típico filme dos seventies americano - demasiado americano - adicionando-lhe a prática de kung-fu. Psicadelismos, cores berrantes (parece que depois dos seventies nunca mais Hollywood quis pintar uma tela de cinema), scope, etc. Tudo está cá aliado a uma trama à James Bond - então em alta - com um agente infiltrado num lugar exótico para derrubar um tirano megalómano. Lee (Bruce Lee, e o facto de o nome da personagem ser esse parece-me reforçar o empenho pessoal no projecto) é o James Bond de serviço, que se vai ver infiltrado num torneio de kung-fu, com alguns dos melhores lutadores do mundo, numa ilha apátrida, de um só dono Han (Kien Shih). É então enviado para lá porque, tanto a polícia como os monges de shaolin, têm fortes suspeitas de que Han anda a tramar algum esquema ilegal. E assim é: o torneio é um pretexto para angariar pessoal de confiança que possa exportar ópio para as mais diversas paragens do globo.

Agora vamos ao que interessa: a porrada. Algumas dessas cenas são, de facto, muito boas, e quem é fã de Bruce Lee sabe que não há modo dele falhar. Dizem, a propósito do período clássico de Hollywood, que Fred Astair estava para a classe alta como Gene Kelly para a classe baixa (sendo ambos geniais). Eu digo que Bruce Lee está para Astair como Jackie Chan para Kelly. As melhores cenas de cacetada ocorrem no subsolo e é fantástico vê-lo, de corpo todo contraído (coberto de sombras), à espera dos avanços dos oponentes (geralmente fora de campo) para, com pequenos movimentos (a elegância de Astair), aumentar a área do cemitério da zona. Também por lá andam um John Saxon (que lá se vai safando numa ou noutra pirueta), Jim Kelly (actor do muito famoso blaxploitation-kung-fu-shit Black Belt Jones também realizado por Robert Clouse, que nunca vi), Yang Sze (um dos vilões supremos dos filmes de kung-fu) e umas quantas moças jeitosas (afinal de contas estamos num filme de 007 - mas neste caso o mau é quem tem os gadgets). E de grande valor é também a banda sonora de Lalo Schifrin, mestre em temas funkys, logo mestre nos seventies.

No seu todo é um óptimo filme de kung-fu, não é contudo um Way of the Dragon nem um Game of Death, e bem merece que o dignifique, nem que seja pela imensa admiração que tenho por Bruce Lee.

2 comentários:

The movie_man disse...

Pois bem, este filme é um bom filme de kung fu, sim senhor. Mas as obras de Bruce Lee produzida em Hong Kong são deveras divinais e este não se compara a tais. Atenção ao Jackie Chan como figurante. Não dá para o ver mas está lá.

JoÃoP disse...

Yah... nos extras do dvd falaram nele. Lá lhe dedicaram dois ou três fotogramas da película, não deixa contudo de ser um encontro mítico como aqueles protagonizados por Astair de Kelly.