domingo, 7 de outubro de 2007

MS .45 - 1981

Thana (Zoë Lund, futura co-argumentista de Bad Lieutenant), muda, frágil, tímida e virgem certamente, trabalha na alta-costura para um estilista de sexualidade ambígua. Nesses minutos iniciais que a vamos conhecendo vamos também sabendo que o seu apartamento está a ser assaltado. Quando ela se dirige para casa a tensão vai naturalmente aumentando, pois o encontro entre ela e o assaltante parece inevitável. Contudo a meio do caminho acontece o inesperado (tão valente como um pontapé nos tomates): é, com uma arma apontada à cabeça, violada por um mascarado (Abel Ferrara, também realizador). Transtornada e esfarrapada chega a casa, senta-se na cama para recuperar o fôlego, ordenar as ideias e chorar. Não tem tempo… dentro de casa ainda está o assaltante - por breves momentos pensei que era o mascarado; não era (uma bigorna a 1km de altura cai sobre os tomates que já estavam doridos). Thana é de novo violada. Não chora – secou-se-lhe a alma. E de alma seca, com um ferro de engomar, mata o violador.
Daqui por diante, e após se sentir confortável ao premir o gatilho da .45, Thana andará pelas ruas nova-iorquinas matando o sexo oposto, mais precisamente, aqueles que exibirão apetite sexual. De inicial figura angelical torna-se em vingativa figura sexual.
No final, mascarada de freira numa festa Halloween, irá matar o seu chefe, que a aliciara sexualmente, e será morta, penetrada por uma faca, por uma colega por quem ela sentira alguma atracção. Colega essa que, ao longo do filme, manda à fava pelo menos um gajo mais atrevido. Esse final é de estalo: Thana incrédula, de .45 em riste, não acredita que foi penetrada pela colega, que parecia partilhar com ela a mesma visão. De estalo porque nesse momento ela chora, apercebendo-se que entretanto perdera a alma.

Geralmente é dito que na génese deste filme está Death Wish (e na génese de ambos estará Taxi Driver, digo eu), de Michael Winner com Charles Bronson, e concordo plenamente. Contudo a impiedade moral de Ms .45 é bem mais forte. Paul Kersey (Bronson) perdia a família (numa sequência também ela violenta) não perdia a alma. O seu único propósito tornou-se a vingança, o propósito de Thana, pelo contrário, era ingénuo, recuperar o irrecuperável, a virgindade. Ambos não conseguem o objectivo, mas a freira, à morte, pelo menos chorou (lembremo-nos do final de Bad Lieutenant)... o outro...? bem, o outro originou umas quantas sequelas cinematográficas.

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