quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Cypher – 2002

Não tendo desgostado do filme de todo confesso que, por preconceito, entrei nele com o pé esquerdo. Vincenzo Natali é daqueles realizadores que deve fazer n storyboards e só deixa o set quando a imagem desenhada foi duplicada na película. Tem ares de perfeccionista. Cypher sofre desse mal, de tão bonito e stylish que quer ser em cada plano esquece-se da cena em si. Eu tenho para mim que o mais importante num filme é a cena e nunca um plano (é claro que se se sacar um ou outro plano de se lhe tirar o chapéu, tanto melhor) mas, como tudo, há realizadores e realizadores, filmes e filmes, jogadores do Porto e jogadores do Porto. Portanto, pondo os talheres e os pratos limpos: Natali não é do meu género de realizadores.
Mas como disse primeiramente não desgostei do filme. Ao contrário do Cube - anterior filme de Natali, que, quase aposto, originou a ainda mais abortiva série Saw, e daí o meu preconceito inicial – o enredo tem alguma piada. Não querendo explicar os quiproquós da narrativa – sabem é daqueles sci-fis que está sempre a revolver-se, é isto, é aquilo é aqueloutro –, que até poderei não ter assimilado completamente, uma coisa clara sobressai dele. Morgan Sullivan (Jeremy Northam) é um homem inicialmente estafado com a sua vida caseira (a mulher é o homem lá de casa) que, ao longo do filme, vai mudando de pele, tornando-se num gajo cool (toda a alminha cinéfila sabe o seu sinónimo: agente secreto) que no final fica com a amante, ou melhor, com a mulher dos seus sonhos. Basicamente o filme é isto: a concretização do sonho de um gajo de meia-idade. Aquelas historietas das corporações secretas que controlam toda a sociedade, o ser-se Sullivan depois Tugsby depois o que quer que seja, é tudo conversa da treta porque não há tempo, nem vontade, para as explorar convenientemente. E ainda bem que não há porque Natali parece não ter estofo para tal. E portanto fiquemo-nos pelo mais simples, e o melhor do filme, repetindo: Sullivan, homem de meia-idade, vai-se ver livre dos seus pesadelos, e da “pain in the neck”, que é a megera caseira para ir ter com a mulher do iate.

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