sábado, 13 de outubro de 2007

Coffy – 1973

Badasssss black chick Pam Grier é a heroína neste famoso blaxploitation. Coffy (mulherão Pam Grier) é uma enfermeira que tem a irmã internada num hospital, tem um amigo que é polícia e tem um namorado que é candidato a senador. São estas as três paixões de Coffy. E são elas que a vão deixar só.
Coffy surge-nos inicialmente como uma badassssssssss prostituta que arruma dois “pequenos” traficantes, causadores directos do internamento vegetativo da sua irmã, mas logo de seguida é-nos mostrada a sua verdadeira face. Coffy não passa de uma frágil enfermeira que tenta viver melhor com a memória da sua infeliz irmã. Não vive essa dor sozinha, tem a companhia do seu amigo de infância, o agora polícia. Polícia íntegro, pois expressa-se (e actua em conformidade) várias vezes sobre os problemas na sociedade afro-americana. E um dos problemas que mais aflige essa comunidade é o facto de os brancos, por trás, manipularem os chefes pretos, sejam eles políticos, traficantes, etc.
Certa altura Coffy envolve-se com o candidato a senador que lhe diz defender os mesmos ideais que ela. Apaixona-se então por ele. Entretanto o polícia, demasiado íntegro, é espancado por um par de capangas com a conivência dos seus colegas polícias. Coffy “in rage” vai então encetar uma vingança que, começará por baixo (um poderoso chulo, mas não tão poderoso como pensa) até chegar ao topo onde encontrará o seu namorado e candidato a senador. Pelo meio encontrará, de facto, um grupo de homens brancos que manipulam os poderosos homens pretos. Mas, mais grave que isso, o que Coffy descobre é um grupo de homens que controlam uma sociedade machista e misógina, consequentemente racista e segregadora.
Para o fim Coffy ainda quer acreditar que o namorado a ama (apesar dele a ter mandado matar, à sua frente, anteriormente – o que reforça, algo ingenuamente, a face frágil de Coffy e não a faceta badasssss, que de quando em vez surge). Mas ele ama-a tanto como a lourinha que o aguarda no quarto. No fim Coffy, frágil como sempre, caminha só pela praia. A vingança fez-se, a mulher desmoronou-se.

Jack Hill, realizador e argumentista, que já colaborara com Pam Grier, e lhe deu esta oportunidade de ser a leading star no filme, tem a desfaçatez, e sentido de humor, suficiente para também ele se pôr em causa. Afinal ele é branco num filme negro (os blaxploitations na generalidade eram filmados por brancos para os guetos pretos) e, numa subtil cena, auto-caricatura-se. O candidato a senador, a certa altura, cercado de apoiantes está a fazer umas declarações sobre os seus objectivos pró afro-americanos e o realizador (branco) daquilo manda os apoiantes aplaudi-lo, interrompendo o discurso, e corta a cena. É uma cena pequeníssima, esclarecedora mas consciente de Hill.

Isto tudo num filme funky, com banda sonora a cargo de Roy Ayres (para quem não sabe, é Grande – e parece que vem ao Casino de Lisboa um dia destes…), carros monstruosos (que ocupavam o scope inteiro, pareciam tubarões nas estradas), armas grandalhonas (carros e armas, objectos fálicos, que Coffy usará como armas de morte contra os homens, o último morrerá de falo desfeito (as mulheres levam porrada corpo a corpo, numa cena memorável, onde todas ficam de mamas ao léu), afros gigantes, cores berrantes, vocês sabem… estamos nos tempos dos funky pimps, etc.
Coffy é um entretenimento consciente, com um final desolador, e com uma grande mulher ao leme. Ainda estou para saber o que é melhor que isto (à excepção de Foxy Brown, também de Jack Hill, claro está).

2 comentários:

The movie_man disse...

é mesmo muito muito bom. Este coffy aos anos que ando para vê-lo mas ainda não o encontrei, para infelicidade minha. Muita ansiedade por aqui anda para ver isto. Pam Grier é Deusa!

JoÃoP disse...

Pam Grier é, quanto muito, a melhor mulher que Deus criou, pois é demasiado carnal para ser Deusa.