quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Django - 1966

Django (Franco Nero) é um homem que deambula pelo território americano, arrastando consigo um caixão. Django é um morto vivo, a terra é enlameada – a chuva levou o pó -, o western americano já não existe, aqui filma-se o western euro-latino. É certo e sabido que Sergio Leone foi o primeiro a filmar estas reflexões sobre o principal género do cinema americano, não podemos contudo somente cingir-nos a ele. Houve outro Sergio, Corbucci neste caso, que não romantizou tanto a reflexão (Leone “inventou” o western spaghetti por amor ao homónimo americano, parece-me que Corbucci, pelo contrário, explorou a formula por lucro e sem tanta vassalagem à origem americana – fê-lo spaghetti pelo spaghetti - Leone foi romântico Corbucci foi pragmático). O Django não é poeticamente não nomeado (como Eastwood na trilogia dos dólares do Leone), tem nome, tem passado (lutou pelo norte na guerra da secessão), tem cicatrizes (o amor dele morreu), etc. Ou seja não é um novo (anti-)herói que, do nada, se materializa na América é sim um anti-herói que já lá esteve, que foi americano até à sua morte, na guerra, e ficou desde então apátrida (não o dizem no filme digo-o eu).
Django vai então para uma terriola fantasma (só existem pessoas no saloon, só existem pessoas amorais) tentar vingar a morte do seu amor e sacar uma avultada pipa de massa. Jonathan (Gino Pernice) foi aquele que matou a mulher, General Hugo Rodriguez (José Bódalo) é o revolucionário mexicano que precisa dos dinheiros. Jonathan e Hugo não se podem ver, o primeiro lidera uma trupe de racistas (até usam lenços a tapar o rosto), o segundo lidera uma armada em terra de gringos que deles só quer dinheiro e armas para a revolução. Django está então no meio do fogo cruzado entre os dois bandos, assim como a belíssima Maria (Loredana Nusciak), que se tornará o seu amor. Como os fantasmas não se podem matar (só espezinhar - Django fica a certa altura com as mãos em papa), Django e Maria (que “morre” a meio do filme, digo eu) são os únicos que “sobrevivem”.

A última cena é antológica: Django, escudado pelo crucifixo tumular da sua amada, vai eliminar os restos do bando de Jonathan, incluindo-o. Depois no cimo do morro do cemitério vira-se agradecendo a quem, de origem espectral, o protegeu.

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