Com este filme Jane Campion atingiu todos os estatutos conquistou todos os festivais e todos os prémios. É claro que este meu “todos” serve, de impreciso recurso, para melhor enaltecer O Piano. Alicerçado em quatro tocantes interpretações, os três protagonistas com excelentes performances em underacting e outra, ainda que “cute”, em justificado overacting da pequena Anna Paquin. Campion consegue, através da sua sensibilidade feminina, a proeza de sustentar ao longo de todo o filme a ideia de que isto é tão sério quanto um poema romântico, onde quem mais vacila é o homem. São eles que se descontrolam, são eles que se confrontam. É claro que Ada McGrath (Holly Hunter) é quem tem as despesas da casa, pois é sobre ela que tudo gira. Chegada à Nova Zelândia: será sobre ela que todas as mulheres passarão a cochichar, será por ela que Alisdair (Sam Neill) se casa, será por ela que George (Harvey Keitel) se apaixona, será por ela que a sua filha (Paquin) fala, e será por ela que o piano toca. E o piano aqui é sinónimo, e não mera metáfora, de coração.
Pressuponho que O Piano tenha sido erigido sobre o excerto do poema, citado no filme, de Thomas Hood, que resume bem melhor a poética do filme:
There is a silence where hath been no sound
There is a silence where no sound may be
In cold grave, under the deep deep sea
There is a silence where hath been no sound
There is a silence where no sound may be
In cold grave, under the deep deep sea
Aqui ficam os versos que o completam.
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